O mundo é redondo, e conseguimos ver tudo à nossa volta. Mas todas as fotografias têm 4 margens. Lado esquerdo, lado direito, de cima e de baixo. Cabe ao fotógrafo fazer com que o nosso olhar ultrapasse essas barreiras, olhar para além dessas margens.

Uma fotografia não exprime só uma imagem impressa num papel ou visualizada no monitor de computador.
Exprime sim, e também, o sentimento de um ser humano, ou da inocência de uma criança.
Exprime a dor, a tristeza e a alegria, exprime a coragem e a dignidade.
Exprime aqui de certeza, uma vida de trabalho, de sofrimento, de alguém que sofreu com as intempéries de um mau ano de colheita.
Exprime a tristeza de alguém, que, já muito tarde e não tem em memória da primeira vez que calçou as primeiras botas.
Exprime a fome e a opressão no tempo do Salazar, exprime o frio de não ter um cobertor para se aquecer nas noites frias de inverno há muitos e muitos anos atrás.
Exprime o ar de tristeza, e que se nota nas rugas, nos olhos e "notou-se" na sua voz.
Eu estive lá. Carreguei no disparador da máquina, e ouvi esta senhora falar.
Não me importa se a foto está bem focada ou não, se tem boa luz ou não. O que me importa sim, é que tenha capacidade de ultrapassar as quatro linhas que a delimitam.

"a octogenária de Mós"
porque toda a fotografia tem uma história
Mós - Torre de Moncorvo - 2002
António Basaloco